Não existe planeta B! Mas não precisamos de mais uma t-shirt a dizer isso

O dia 22 de abril assinala-se em todo o Mundo como o Dia da Terra. Neste artigo, vamos debruçar-nos na Indústria da Moda, nos problemas avassaladores que prejudicam o ambiente e nas medidas que podem ser tomadas para atenuar a crise no planeta Terra.

O dia 22 de abril assinala-se em todo o Mundo como o Dia da Terra. A celebração marca o surgimento do movimento ambientalista moderno em 1970. Esta data simbólica e histórica apela à mudança do comportamento humano e à criação de alteração de políticas globais, nacionais e locais. A luta diária pelo meio ambiente é uma urgência, à medida que a devastação das alterações climáticas se torna mais evidente a cada dia que passa.

A capacidade de atenuar alguns destes problemas está, por um lado, no consumidor, através de uma alteração nos hábitos de consumo, mas também nas marcas, que devem apostar em práticas sociais e ambientais seguras e honestas. Obviamente que o problema das alterações climáticas e outras demandas prejudiciais são causadas pela produção excessiva e descarte rápido em diversas indústrias.

No entanto, sendo a FashionHub um projeto dedicado à indústria têxtil e de vestuário, neste artigo vamos debruçar-nos na Moda, nos problemas avassaladores que prejudicam o ambiente e nas medidas que podem ser tomadas para atenuar a crise no planeta Terra.

A indústria da Moda está entre as mais poluentes do mundo, depois da indústria do petróleo.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), é responsável por 8% dos gases do efeito estufa e por 20% do desperdício de água no mundo. Uma t-shirt básica de algodão e cor branca precisa de 2700 litros de água na sua produção, o equivalente ao consumo médio de água por pessoa durante 2 anos e meio. (fonte: Fundação Ellen MacArthur).

Além disso, grande parte da roupa tem na sua composição uma percentagem elevada de poliéster, um tipo de resina plástica derivada do petróleo e que oferece grandes vantagens em relação ao algodão: mais barato, pesa pouco, seca rápido e não amarrota. O problema é que demora 200 anos para se decompor, em relação ao algodão, que demora 2 anos e meio.

A fast fashion revolucionou a indústria do vestuário, mas não necessariamente para melhor. Por trás de cada peça de roupa exposta numa loja, há uma indústria que satura a Terra e os seus recursos limitados e explora a maioria das pessoas que trabalham nas fábricas de vestuário. A indústria têxtil e de vestuário é caracterizada pelo desperdício têxtil,  mas também dos recursos para a vida, uma vez que provoca erosão dos solos, contamina fontes de água doce, polui o ar que respiramos, contamina os oceanos, destrói florestas e danifica os ecossistemas e a saúde da biodiversidade.

O deserto do Atacama, no Chile, é considerado o maior cemitério de roupa que existe no mundo. Todos os anos os números de resíduos aumentam e a tendência é que seja cada vez pior. A maioria das peças estão repletas de materiais nocivos e de difícil decomposição, como o poliéster. No silêncio do deserto, fica a imagem de camisolas desportivas e fatos de banho, que brilham como novos, mas provavelmente estão há meses ou anos no lixo, devido à dificuldade na decomposição de determinadas matérias-primas. Contudo, com o passar do tempo, as roupas desgastam-se e soltam microplásticos que acabam na atmosfera, que acabam por afetar a fauna marítima ou terrestre.

Nicolás Vargas

Dados que demonstram os riscos causados pela Indústria Têxtil e de Vestuário

  • A indústria da moda produz 100 mil milhões de peças de vestuário por ano e 87% (40 milhões de toneladas) acabam num aterro.
  • Apenas 1% de todas as roupas descartadas são realmente recicladas.
  • Uma pessoa, em média, nos dias de hoje compra 60% mais peças de roupa do que há 15 anos, mas guarda-as apenas durante metade do tempo. Uma peça de roupa pode ser usada em média apenas dez vezes antes de ser descartada.
  • A indústria do vestuário é responsável por 4% das emissões de gases com efeito de estufa – o mesmo que os países da Alemanha, França e Reino Unido juntos. Se não for controlada, a produção de moda será responsável por 26% de todas as emissões de carbono até 2050.
  • O cultivo de algodão não orgânico esgota e degrada fortemente o solo. É uma das culturas mais intensivas em pesticidas do mundo. Estes afetam a saúde dos agricultores e das populações próximas.
  • Até 40% das emissões de carbono provocadas pela indústria têxtil provêm da produção de poliéster e espera-se que a produção de poliéster cresça 47% nos próximos 10 anos.
  • Lavar roupas sintéticas representa 35% de todos os microplásticos nos oceanos, tornando-os a maior fonte de poluição por microplásticos nos oceanos do mundo.
  • O verdadeiro custo das roupas baratas da fast fashion é extraído dos trabalhadores das fábricas de vestuário. Os trabalhadores, por vezes, recebem menos do que o salário mínimo, o que nem de longe constitui um salário “de subsistência”.
Fonte: Fashion for the Earth

O papel fundamental do Consumidor de Moda

A produção de vestuário duplicou desde 2000 e, com a mudança da população e dos padrões de consumo, espera-se que a indústria da moda rápida continue a crescer. Até 2030, uma estimativa sugere que o consumo de vestuário crescerá 63%, juntamente com um aumento desde 2015 de 2,4 mil milhões de pessoas na classe média global, e um relatório recente estimou que o mundo está no bom caminho para triplicar a produção de vestuário até 2050.

Estes números demonstram que o consumidor tem um papel fundamental neste processo e que as suas escolhas podem impactar o planeta.

O consumo exacerbado de roupa é promovido, em parte, pelas tendências e produtos que a fast fashion lança todos os dias nas mais diversas plataformas, é um vício que o consumidor necessita de combater. No entanto, cada um de nós, enquanto consumidor só consegue superar alguns obstáculos se obtiver informações e soluções rápidas, concisas e honestas.

Deixamos algumas sugestões para alterares alguns dos teus hábitos de consumo:

  1. Escolhe alternativas sustentáveis à fast fashion, para isso é importante teres atenção ao que dizem as etiquetas de composição das peças de roupa.
  2. Tem cuidado com o tratamento das peças de roupa, nomeadamente aos detergentes usados nas lavagens.
  3. Aprende a reparar a tua roupa, através da técnica upcycling, por exemplo. Podes também procurar a ajuda de um profissional, como um/a costureiro/a.
  4. Procura ir a lojas em segunda mão.
  5. Último conselho, mas não menos importante: pensa antes de comprar! Se precisas realmente de determinada peça de roupa; se não tens alternativas no armário; se não podes comprar em segunda mão, ou pedir emprestado. 

A mudança também depende de ti! O consumidor tem uma palavra a dizer e muito para descobrir.