Portugal Fashion: a resiliência e a paixão pela moda marcaram a 53ª edição

Ainda bate! Foi este o mote da 53ª edição do Portugal Fashion. Ainda pulsa a emoção, criatividade, inovação, sustentabilidade, irreverência, elegância, multiculturalidade. A apresentação das tendências para a primavera/verão 2024, provou que a paixão pela moda é mais resiliente do que os obstáculos financeiros.

A 53ª edição do Portugal Fashion decorreu entre os dias 10 e 14 de outubro, no Museu do Carro Elétrico, no Porto. O evento contou com mais de 30 desfiles, entre designers “veteranos” e a apresentação de novos criadores. Neste último tópico o destaque vai para a iniciativa Bloom e os desfiles da CANEX (Creative Africa Nexus) que promovem a cultura e o universo criativo de designers provenientes de países africanos.

O Museu do Carro Elétrico, além de garantir beleza arquitetural e proximidade ao ambiente urbano e à beleza natural do rio Douro, representa também uma ligação conceptual a uma preocupação estratégica para o Portugal Fashion, a sustentabilidade, aliada à mobilidade elétrica, criando uma conexão entre passado e o futuro.

Mónica Neto, diretora do Portugal Fashion – Agência Lusa

O Portugal Fashion atravessa um momento delicado a nível financeiro, o que compromete a realização de futuras edições. No entanto, esta foi a prova de que está vivo e é necessário no panorama da Moda em Portugal. A Câmara do Porto mantém o apoio ao evento, tendo aprovado, em reunião de Executivo, uma comparticipação financeira no valor de 150 mil euros.

O memorando de entendimento que o Portugal Fashion assinou com a ANJE (Associação Nacional de Jovens Empresários), a Universidade Católica Portuguesa e a consultora Deloitte, tendo em vista o desenvolvimento de um plano estratégico para os próximos três anos com o objetivo de garantir um financiamento mais estável e sem depender de fundos, permitiu a realização de um completo estudo de diagnóstico, que indica o início da jornada em relação à forma como devemos encarar o Portugal Fashion a partir deste momento.

Dia 1 | Bloom: a ode aos novos criadores

O primeiro dia de desfiles foi integralmente dedicado à apresentação de novos designers portugueses e africanos, através do Bloom, iniciativa habitual de edições anteriores, que culminam sempre em agradáveis surpresas, como os vencedores do concurso Jovens Criadores PFN (promovido pela Associação Selectiva Moda): Ingrid da Costa e Joaquim Trindade.

Studio Madoch, do designer marfinense Lewis Tahou, apostou numa coleção de tons azul e preto, onde destacamos alguns componentes metalizados.

Sevaria, uma marca do Quénia, apresentou as propostas para a primavera/verão 2024, numa coleção preocupada com a sustentabilidade, através da utilização de técnicas upcycling. Num desfile onde as franjas surgiram em casacos, vestidos, blusas, saias e carteiras, o jogo de cores fez-se entre o azul e o branco.

O primeiro dia terminou com Ahcor, ao longo da coleção a designer Sílvia Rocha apresenta organza e franjas tecidas, bordados e rendas. O trabalho artesanal manifesta-se na forma de aplicações florais em pérolas, que fazem parte do processo de recuperação de acessórios em fim de vida.

Joaquim Trindade | FashionHub

Dia 2 | A simplicidade de Carolina Sobral e a sofisticação de Nuno Miguel Ramos

No segundo dia de Portugal Fashion, a moda nacional foi a atração principal com destaque para nomes como o de Carolina Sobral e Nuno Miguel Ramos.

A intemporalidade de Carolina Sobral, vincada por tons sóbrios, linhas suaves e simplicidade, combinados com a volumetria das peças, o que conferiu movimento na passarela e pormenores nas mangas. Uma coleção desenvolvida a partir de materiais portugueses sustentáveis e de alta qualidade.

Na apresentação da coleção SS24 de Nuno Miguel Ramos, tivemos um momento “glamour” no Portugal Fashion. Num desfile em que reinaram os tons pastel e o branco, tinha tudo para passar despercebido, porém teve o efeito contrário. Nuno Miguel Ramos apostou no tule, nos folhos, nos brilhos, no metalizado e conferiu elegância com uma certa irreverência sofisticada às suas criações.

A Maison Farah Wali deixou-nos rendidos à sua irreverência aliada à sofisticação, aplicada a padrões étnicos com referências típicas do Egito.

Dia 3 | O passeio em Ibiza com David Catalán e o conforto de Estelita Mendonça

O terceiro dia ficou marcado por uma estreia no Portugal Fashion, a coleção do Citeve – iTechStyle Green Circle -, que provou que a moda sustentável pode ser bonita e irreverente.

No histórico Museu do Carro Elétrico, Dina Shaker, da plataforma CANEX, apresentou a sua coleção SS24. A criadora veio do Egito, onde estudou design e marketing de moda na Egypt Fashion & Design Center. As suas propostas carregam detalhes e tecidos para usarmos em qualquer ocasião do quotidiano.

David Catalán conseguiu transportar até à passarela do Portugal Fashion a inspiração para a sua coleção: o estilo de vida em Ibiza. No desfile alguns dos destaques recaem na ganga, riscas e acabamentos em crochet.

A proposta de Estelita Mendonça para a primavera/verão 2024 é inspirada na roupa de trabalho, mas adaptada para o conforto de uma viagem de verão.

Alexandra Moura apresentou “Âmago”, para refletirmos sobre o mais importante, da sustentabilidade ao irreverente, em que os tons predominantes foram o preto e o vermelho.

O penúltimo dia encerrou com o desfile de cor de Miguel Vieira. Os tons quentes, como o laranja, vermelho e cor-de-rosa e a combinação com tons mais frios, como o branco e o azul, em vestidos, blusas e blazers.

Dia 4 | As cores da infância de Susana Bettencourt e o Sunset de Huarte

A criadora Susana Bettencourt fez um regresso ao passado e nesta coleção recuperou as cores da sua infância, num desfile onde nem os balões faltaram. As peças em malha refletem o material ex-líbris da marca, assim como os valores pela produção artesanal e a sustentabilidade.

Da plataforma CANEX, a marca Anissa Mpungwe Atelier apresentou propostas bastante arrojadas. Para a próxima primavera/verão, os tons quentes como laranja e vermelho, combinados com riscas, os vestidos fluídos e brilhos. O preto marcou a sofisticação de peças fato-de-banho.

Também Pedro Pedro apostou num estilo descontraído, pronto para qualquer necessidade do quotidiano, como ir trabalhar. A dupla evidenciou o artesanato, principalmente nos acessórios em acrílico que captaram a atenção da plateia – os brincos e malas produzidos pela escultora Rita Caldo. As estampas em flores que surgem em alguns conjuntos foram desenvolvidas por Thaís Mendonça. Já alguns pormenores em crochet são da autoria de Lígia Beirão.

Huarte apresentou a coleção ‘Sunset’, no exterior do Museu do Carro Elétrico, com vista para o pôr-do-sol no rio Douro, o cenário perfeito. Contemporânea e descontraída, de forma genérica, é assim que podemos definir a coleção SS24 da Huarte. Tudo é verão, desde a ganga, o linho, a malha, os pormenores de brilhos nas mangas e as cores, como o branco, laranja e cor-de-rosa. O desfile contou com as participações especiais da Lemon Jelly e da Hurricane, de onde eram o calçado e os chapéus, respetivamente.

Pé de Chumbo foi a última marca a pisar a passarela do Museu, onde apresentou “Shoot me Down”. A coleção vinca a sofisticação a que a marca nos habituou, como a combinação de cores e os materiais. Em termos de tendências, destaque para cores fortes, como o cor-de-rosa para peças do quotidiano e o preto para peças mais clássicas e sofisticadas. As franjas e a definição da silhueta feminina são outros aspetos a realçar.

Depois destes cinco dias de inovação, irreverência, networking e multiculturalidade, assim terminou a edição 53 do Portugal Fashion.

Esperamos que o coração da Moda continue a bater, no Porto!