Sangue Novo na ModaLisboa: o poder disruptivo da moda através da criatividade

A edição 64 da Lisboa Fashion Week inaugurou a passarela do Pátio da Galé com o desfile dos cinco finalistas do concurso Sangue Novo. Descobre neste artigo os dois vencedores.

Ugo Camera | ModaLisboa

A edição 64 da Lisboa Fashion Week inaugurou a passarela do Pátio da Galé, no dia 7 de março de 2025, com o desfile dos cinco finalistas do concurso Sangue Novo. A iniciativa foi mais uma prova de superação para estes criadores emergentes, que se estrearam no ambiente dos desfiles destinados aos nomes consagrados da moda portuguesa.

As propostas das suas coleções para o outono-inverno 2025 reuniram os critérios imprescindíveis de participação, como processos digitais e artificiais de produção; a modelagem de novos materiais; inovação e compromisso com a sustentabilidade.

Os cinco finalistas a concurso foram conhecidos em outubro de 2024: Dri Martins, Duarte Jorge, Francisca Nabinho, Gabriel Silva Barros e Ihanny Luquessa apresentaram o resultado da sua maturidade comercial e artística, desenvolvido durante o último semestre com o acompanhamento e mentoria do painel de jurados.

As coleções tiveram como inspiração temas impactantes, tais como “a Moda enquanto um sonho que pode e deve ser concretizável na escolha consciente, uma distopia muito próxima em que a classe média é abolida, a diluição de fronteiras entre técnicas ancestrais e inovação tecnológica, a tradução da profundidade emocional extremamente humana em peças que desafiam volume e proporção e a transgressão de género e a tensão visual entre o passado e o futuro”, explica a organização da ModaLisboa.

Nesta segunda fase do concurso, os membros do júri não devem ter tido uma tarefa fácil, mas contaram com um reforço para ajudar nas decisões finais: a Miguel Flor (Presidente de Juri), Constança Entrudo (Designer Têxtil), Joana Jorge (Project Manager, ModaLisboa), Ana Tavares (CEO, RDD Textiles) e Rune Park (Fundador e CEO, loja Sheet-1), juntou-se Danilo Venturi, Diretor do IED Milano com uma carreira multidisciplinar que vai desde curadoria a planeamento estratégico e branding de moda. Os seis elementos do júri analisaram o talento, autenticidade e rigor técnico dos participantes.

A Seaside continua a ser parceira oficial do concurso, alinhando-se com a sua missão de promover a criatividade e sensibilizar para a sustentabilidade em toda a cadeia de valor da Indústria de Moda. As coleções voltam a ser confecionadas com materiais fornecidos pelas parcerias têxteis estabelecidas pela Associação ModaLisboa: Calvelex / Fabrics4Fashion, RDD Textiles e Riopele.

Em seguida, neste artigo, conhece os prémios dos vencedores do Sangue Novo e as coleções de todos os finalistas.

Vencedores do Sangue Novo

O concurso Sangue Novo supported by Seaside já conhece os vencedores desta edição. Os jovens designers selecionados pelo painel de jurados foram Duarte Jorge e Gabriel Silva Barros.

Depois da avaliação atenta das coleções dos 5 finalistas, o júri do concurso ­distinguiu Duarte Jorge com o prémio ModaLisboa x IED Instituto Europeo di Design: um Master em Fashion Brand Management no IED Firenze, no valor de 24.000 euros, e uma bolsa de 4.000 euros.

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Gabriel Silva Barros conquistou o prémio ModaLisboa X RDD Textiles, que lhe dá a oportunidade de realizar um estágio de três meses na RDD Textiles, para desenvolvimento de uma coleção com materiais e processos inovadores da RDD. Recebe também uma bolsa de 1.750 euros para o desenvolvimento da nova coleção.

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Os dois vencedores beneficiam ainda dos serviços de assessoria de imprensa e showroom na agência de comunicação Showpress, durante uma estação.

Em seguida, conhece cada uma das coleções apresentadas.

Duarte Jorge

Duarte Jorge apresenta 2112. ONYX DISTRICT., cuja premissa principal é “a classe média desapareceu”.

Esta coleção assume o poder disruptivo da moda e quase paranormal, ao envolver o meio da criação artística com a ficção científica.

“A elite vive no luxo, enquanto o resto da população sobrevive nas sombras, esmagada pelas corporações. Um mundo de máquinas brilhantes e almas apagadas”, descreve Duarte Jorge.

Contudo, na imaginação do jovem designer há um  grupo de rebeldes que não desiste, chama-os de Anomals. Na passarela quem lhes dá vida são manequins que vestem as criações de Duarte Jorge e incorporam os portadores da Cyberlight, um vírus ciberorgânico que invade sistemas e reacende o que parecia perdido: a essência de viver. “Para quem o carrega, é mais do que um vírus; é uma faísca de resistência, um grito contra o vazio”, acrescenta o designer.

Nas roupas dos Anomals sobressaem o preto, como cor dominante, as silhuetas distorcidas e diferentes texturas, que simbolizam a luta entre a opressão e a liberdade.

Gabriel Silva Barros

“Devolta ao Mar” é a continuação da coleção anterior de Gabriel Silva Barros, “Masquerade at the Gentlemen’s Club”. Enquanto as propostas para a primavera-verão 2025 capturaram a energia opulenta e excêntrica de uma noite a transgredir géneros num cabaré, esta coleção desenrola-se nas horas tranquilas e reflexivas da manhã seguinte. Os pescadores, que expressaram as suas identidades fluidas vestidos em sedas, penas e veludos, agora enfrentam a luz fria da madrugada e o rigor do mar, com uniformes feitos de flanela, malhas e tecidos desgastados.

Nesta coleção, Gabriel Silva Barros eleva o papel da sustentabilidade como suporte do seu produto final, ao reaproveitar peças de vestuário em segunda mão, desconstruindo-as para criar novos têxteis e designs.

“Devolta ao Mar” evoca uma dualidade entre os dois mundos, a liberdade do cabaré, que era representada com os tons vermelho e amarelo vibrante e, por outro lado, o que acompanha a neblina da manhã seguinte, com uma paleta mais escura, composta por azul-marinho, cinzento ardósia e tons terrosos.

Contudo, os materiais desempenham um papel crucial na expressão desta dualidade: as sedas e tecidos delicados, transportados da noite anterior no cabaré, representam a sensualidade e vulnerabilidade, enquanto as flanelas e malhas fortalecem a coleção nas texturas dos uniformes dos pescadores.

Na FashionHub destacamos as diferentes texturas e sobreposições, harmonizadas por peças que vincam a cintura.

Francisca Nabinho

A coleção “Efémera” é inspirada no cato Selenicereus grandiflorus. Originário das Antilhas, do México e da América Central, este cato é conhecido pela sua raridade e pela efemeridade da sua flor que desabrocha apenas uma vez por ano, durante a noite.

Esta flor reflete o trabalho artístico na confeção das peças da coleção, onde o cuidado do processo criativo é um dos elementos-chave, como se se tratasse do tratamento de um cato no seu habitat natural.

Nesta coleção, Francisca Nabinho recorre a materiais naturais e a técnicas tradicionais como a tecelagem. As flores que compõem os detalhes de cada peça foram desenhadas, cortadas e algumas serigrafadas à mão, reforçando a exclusividade e originalidade desta coleção. Os buracos nas malhas, não são erros, não são desgaste, não se trata de uma tendência, mas sim retratar a imperfeição da natureza no seu estado mais puro.

Um dos destaques da FashionHub recai no uso de resina, que permitiu acrescentar plasticidade a algumas das peças e conferir-lhes movimento e fluidez.

As cores utilizadas na coleção são outro componente estético que destacamos, onde o branco, rosa claro, amarelo e azul se destacam como reforço dos elementos da natureza para compor as peças e os seus elementos em flor.

Ihanny Luquessa

Ihanny Luquessa apresentou ECHOES, uma coleção que mergulha nas emoções pesadas que acompanham o amor, refletindo aspetos não ditos ou conversados, como a tristeza, a perda, a explosão de emoção e a dor silenciosa de não ser suficiente.

Na FashionHub desctacamos a forma metafórica que o jovem designer utiliza para descrever os sentimentos anteriormente referidos, através de elementos que amarram as peças, mas também com a utilização do preto e volumes, como se fosse o peso da dor, ao mesmo tempo que o branco tenta libertar o nosso estado de espírito, transportando-o para uma dimensão mais leve, de pureza e fluidez.

Dri Martins

“Tomorrow’s Dream”, é o nome da coleção apresentada por Dri Martins, que reflete sobre a experiência da Moda como uma forma de autoexpressão e conexão.

Dri Martins quis desafiar as normas, despertar novas ideias e incentivar as pessoas a vestirem os seus sonhos enquanto fazem escolhas reais e conscientes.

É uma coleção que nos inspira a sonhar, por isso, na FashionHub, destacamos as lantejoulas e transparências em silhuetas justas, como os vestidos e tops ou mais estruturadas como o destaque do casaco de ombros exagerados e as calças e saias com formas mais fluidas.

Inovação, Sustentabilidade, Criatividade

Os cinco finalistas desta edição do concurso Sangue Novo provaram que a inovação, sustentabilidade e criatividade são conceitos que conseguem desfilar entrelaçados na passarela.