A edição 65 da Lisboa Fashion Week acolheu mais um capítulo do concurso Sangue Novo. A iniciativa permitiu uma primeira experiência destes jovens criadores na organização e produção de um desfile, e de assumirem a responsabilidade de se apresentarem ao público.
Através dos projetos apresentados, a Moda transforma-se em Base da sociedade ao centralizar o desenvolvimento das criações numa análise a diversos temas contemporâneos: a libertação do corpo masculino da neutralidade estética; a adaptação social a cenários de conflito; a inversão de estereótipos de género; a procura de um lugar de pertença; o estado onírico da inocência; a desinformação que inflama a opinião pública; o questionamento de uma perspetiva eurocêntrica da Moda; a crueza industrial; a beleza da identidade; e o confronto com a dureza de condições de trabalho injustas, tal como expõe a ModaLisboa no site oficial do evento.
Os membros do júri, Miguel Flor, Joana Jorge, Anastasia Bilous, Federico Cina, Federico Poletti e Filipa Homem analisaram o talento, autenticidade e rigor técnico dos participantes.
Adja Baio, Ariana Orrico, Mafalda Simões, Mariana Garcia e Usual Suspect são os cinco finalistas desta edição do Sangue Novo. Elio, Do Cruzeiro Seixas Eva e Inês Almeida foram os restantes participantes do concurso.
Em março de 2026, competirão pelos prémios ModaLisboa x IED – Istituto Europeo di Design; ModaLisboa x Burel Factory; ModaLisboa x Showpress.
Deixamos algumas fotografias dos looks criados por Adja Baio, Ariana Orrico, Mafalda Simões, Mariana Garcia e Usual Suspect apresentados na edição 63 da Lisboa Fashion Week, com uma uma breve análise da FashionHub Portugal.
Adja Baio
Adja Baio nasceu e cresceu na Guiné-Bissau, mas há sete anos emigrou com a família para Portugal. A mudança abriu-lhe caminho para um futuro na área da moda e conseguiu formar-se em Design de Moda pela ESAD. A designer emergente centra o seu trabalho na criação de peças sem género, explorando a fusão entre referências da cultura guineense, o streetwear e o maximalismo.
PANO DE PINTI é o nome da coleção que Adja Baio apresentou no concurso Sangue Novo, que reflete a identidade pessoal e cultural designer. O cabelo sobressai como elemento central da sua expressão, pois desde criança mantém uma ligação especial com penteados e tranças, porém apenas agora compreendeu o profundo significado desta prática e eleva-a através das suas criações.



As assimetrias do corte das peças, os padrões étnicos vibrantes e as sobreposições são inspiradas nas raízes guineenses da Designer e reinterpretadas através de um olhar contemporâneo e experimental. Nas peças destacam-se a mistura de materiais, os tons escuros e as silhuetas exageradas.


Cada peça afirma quem é Adja Baio, de forma autêntica e consciente, seja com a integração do streetwear, que além de traduzir o seu estilo pessoal, adiciona um visual marcante.
Ariana Orrico
Ariana Orrico é natural de Lisboa, mas tem ascendência cabo-verdiana. Concluiu a licenciatura de Design de Moda na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa. Atualmente, também na FAUL, está a realizar um mestrado na mesma área. Durante o seu percurso académico esteve numa universidade, em São Paulo, no Brasil, onde teve a oportunidade de realizar um intercâmbio e experimentar novas técnicas e conhecer uma nova realidade.


A coleção 75 nasce de uma urgência: libertar o corpo masculino da neutralidade visual que o limita. Para isto, eliminar as calças foi o primeiro passo. O segundo, foi construir peças através de uma desconstrução da tradição, com materiais como couroO couro é um material que deriva de animais de diferentes e... ver mais..., ganga
A ganga (em inglês, denim) é um tecido de sarja de algodã... ver mais... e malha rendada. O mote de cada composição foi gerar um caminho de dúvidas, (re)imaginar, questionar, provocar e abrir espaço para o corpo experimentar novas formas de existir. O resultado final são looks que carregam o peso das ferramentas para a autodescoberta.



O conceito final da coleção cápsula traduziu-se num processo de autodescoberta, que foi materializado em tecidos de algodãoO algodão é uma das matérias-primas mais comercializadas ... ver mais... provenientes de desperdício têxtil e em couro
O couro é um material que deriva de animais de diferentes e... ver mais... autêntico comprado em retalhos e transformado em patchwork
Uma das primeiras peças confecionadas pelo método patchwor... ver mais..., aproveitando ao máximo cada fragmento.
Mafalda Simões
Mafalda Simões nasceu em Coimbra e é licenciada em Design de Moda pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, onde atualmente frequenta o mestrado na mesma área. O seu início de carreira promissor proporcionou-lhe um estágio com a Designer Constança Entrudo e, em 2023, participou na Mostra Nacional de Jovens Criadores, onde venceu na categoria de Design de Moda com a coleção coletiva “Entulho”. O seu trabalho destaca-se pela inovação que transporta para técnicas artesanais.
Na ModaLisboa Base apresentou a coleção DAYDREAM, que reflete a transição da infância para a adolescência, um espaço onírico entre a inocência e a consciência, celebrando o espírito imaginativo, sensível e resiliente desta fase da vida.


A coleção é inspirada na série fotográfica Girl Pictures, de Justine Kurland, onde adolescentes criam mundos imaginários à margem da vida adulta. Daydream é uma viagem entre fantasia e realidade, onde se destacam os tons pastel, as riscas e os padrões que nos remetem para desenhos infantis.



Cada peça é inteiramente produzida a partir da manipulação do fio, recorrendo ao tricô e ao croché, num processo artesanal minucioso em que a técnica manual se alia à criatividade.
Mariana Garcia
Mariana Garcia, natural de Vila Nova de Famalicão, formou-se em Design de Moda na ESAD. Estagiou com Susana Bettencourt e na empresa BECRI, experiências que lhe permitiram explorar o diálogo entre criatividade e indústria. Em 2019, foi distinguida com o 1.º prémio no concurso “O Meu Projeto é Empreendedor”, promovido pela Rede Municipal Famalicão Empreende, com o projeto “Mutante”, uma coleção de vestuário transformável.
Na ModaLisboa Base, Mariana Garcia apresenta COTA 0, uma coleção que é a base de tudo, COTA 0 é o início de uma jornada criativa: uma exploração aberta, inspirada no movimento, na arte, na natureza e no design.



A coleção cápsula é Inspirada no trabalho do escultor norte-americano, Richard Serra, com cortes precisos e linhas orgânicas. Construída através da desconstrução, o processo teve início com exercícios de forma no manequim, utilizando blazers e calças como ponto de partida para o desenvolvimento de novas peças.


Elementos industriais, como cobre e cromados da oficina de motas do avô da designer Mariana Garcia, introduzem contraste e elegância. O resultado preserva as peças, atribuindo-lhes um novo significado. É um processo de produção que une transformação, simplicidade e sofisticação.
Usual Suspect (Xavier Silva)
Xavier Silva é recém-licenciado em Design de Moda pela ESAD. Para o desenvolvimento das suas criações tem como inspiração o universo do workwear e do streetwear, explorando a ligação entre funcionalidade, reconstrução e identidade urbana.
Da vontade de repensar a Moda e o seu impacto, nasceu a marca Usual Suspect 1of1, um projeto que valoriza o upcyclingA técnica upcycling é um recurso da moda circular que agre... ver mais... e o reaproveitamento de materiais, dando uma nova vida a tecidos e peças, que provavelmente acabariam num aterro.


A coleção ÚLTIMO EMPREGADO é uma homenagem à história da família de Xavier Silva, marcada por anos de trabalho duro e pouco valorizado. Através desta coleção, o jovem designer procura transformar sentimentos de desgaste e invisibilidade em criação artística e enriquecedora.


A coleção utiliza uniformes usados por si e pela sua família, mantendo as marcas de sujidade, rasgões e remendos como analogia à suas “marcas de guerra”. Estes elementos, combinados com objetos de trabalho reutilizados – como luvas gastas e panos sujos – reforçam a ligação ao upcyclingA técnica upcycling é um recurso da moda circular que agre... ver mais... e à memória afetiva do vestuário.