O mês de Fevereiro é considerado o mais romântico do ano, devido à data 14 de fevereiro, que celebra o São Valentim, padroeiro do amor.
No âmago comercial, é vulgarmente designado por “Dia dos Namorados”, sendo aproveitado por agências de viagens, restaurantes, floristas, marcas de produtos de beleza, marcas de chocolates e bebidas, entre outras, para descontos imperdíveis, o que acaba por ser um incentivo ao consumo desenfreado.
No entanto, todas as datas merecem ser celebradas, principalmente se se tornam rituais sagrados na vida de cada um de nós. Porém, devemos ter atenção ao calendário comercial, comprar com responsabilidade e refletir em que produtos vale a pena investir. Às marcas cabe o compromisso de praticar uma conduta de produção correta e de ter uma comunicação honesta e clara.
Na Moda, o padrão de incentivo ao consumo não é exceção, seja com propostas para presentear a cara metade, ou até mesmo roupa para usarmos num jantar especial. Desde meados de janeiro somos constantemente bombardeados com mensagens e emails repletos de sugestões.
Com este artigo, eu talvez assuma um papel de “advogada do diabo”, porque estarei também a dar sugestões e, de certa forma, a incentivar o consumo, sendo que o objetivo, como sempre, é fazer-te refletir e ter práticas mais responsáveis.
O ponto de partida para escrever este artigo surgiu quando vi o lançamento das últimas peças da marca HB Curator. Depois de analisar a coleção, com poucas unidades disponíveis, produzida em Portugal com cuidado e rigor na técnica, mas também nas matérias-primas utilizadas, fiquei com três palavras-chave em mente: romantismo; sofisticação; intemporalidade.
Posto isto, pensei que esta combinação daria um excelente tema para vos escrever, por isso, vou mostrar-vos as criações incríveis de Helena Branquinho (fundadora da HB Curator), perfeitas para celebrarmos o amor próprio ou para um jantar com alguém especial. Porém, antes disso, vou fazer um breve enquadramento histórico sobre o Período Romântico, no século XIX, os loucos anos 20 do século XX e uma comparação com a atualidade.
Épocas distintas, mas que marcaram a Moda e diversas posturas da mulher na sociedade, e os conceitos de romantismo, sedução, sofisticação e elegância atingiram tendências que ainda hoje usamos, embora de forma moderna. A moda é cíclica e o conteúdo deste texto é a prova disso.
A Moda desde o Período Romântico ao século XXI
Para quem acompanha a FashionHub há algum tempo, sabe que um dos nossos lemas é: “A moda é arte, cultura, política, economia… Mais do que um estado de espírito é poder ser o que quisermos!”, e eu acrescento que a moda é um “termómetro da sociedade”, para medirmos o impacto, por exemplo, de consequências políticas.
Sem perder o foco do objetivo principal deste artigo, que é analisar o Romantismo na roupa e de que forma o estilo romântico de um período histórico definiu um conceito, tanto para a moda como para a sociedade.
O Período Romântico marcou a História europeia no século XIX, principalmente entre 1820 e 1850. Este período foi movido pela emoção, subjetividade e espontaneidade, transferindo estas características para as artes, como a música, teatro e a literatura, onde o sentimento se sobrepunha à racionalidade. Em Portugal, foi nesta altura que se destacaram as obras de Júlio Dinis e Camilo Castelo Branco.
As mulheres pretendiam ser cortejadas e muitas vezes eram consideradas “mais fragéis”. Já os homens queriam ser cavaleiros e apelidados de “destemidos”.

Muitos historiadores assumem que esta fase do Período Romântico se tratou de um revival da Idade Média, através da ideia do amor cortês e de uma mulher submissa, que não podia trabalhar, mas tinha de estar em casa e saber fazer todas as tarefas domésticas. Nesta época, as mulheres eram vistas como delicadas e peças decorativas, aqui entra a Moda como termómetro de uma sociedade onde se devia manter intocável o status da figura masculina.
Deixemos de lado os romances e amores proibidos, para falar sobre a Moda nesta altura. Por volta de 1814, as mulheres usavam pouca roupa, uma espécie de camisola longa, leve e com cintura império (abaixo do peito). E as saias adquiriram um novo formato mais aberto na barra até 1820, mas eram volumosas e até aos tornozelos. A cintura tinha de ser minúscula e coberta por um corset pontudo, para ajudar a acentuar ainda mais essa zona do corpo. Os vestidos tanto podiam ter cores claras ou vibrantes, padrões florais delicados, riscas ou ser completamente lisos. A manga balão, os laços, as rendas e as transparências também surgiram nesta época como maneira de evidenciar as formas femininas, mas num estilo mais romântico e simples. As indumentárias ficavam completas com casacos longos ou capas nos dias mais frios.


Os vestidos de noite eram mais decotados, deixavam os ombros à mostra, e podiam ser levemente tapados por xailes ou mantos – o romantismo e sensualidade feminina no seu estado mais puro. Os leques eram um adereço fundamental, assim como as pérolas e acessórios em formato delicado.
Os anos 20 do século XX, menos de um século depois do auge do Período Romântico, conferiram uma adaptação irreverente do estilo clássico e do romantismo. Os loucos anos 20, como são apelidados, foram intensos. O “american way of life” (estilo de vida americano), foi o mote desta época, que teve o jazz como banda sonora e festas em cabarets. As mulheres começaram a ter uma participação mais ativa não só na vida boémia, mas também a nível político e económico, surgindo o movimento sufragista, que entre outras coisas fez as mulheres lutarem até adquirirem o direito ao voto e ingressarem no mercado de trabalho.

A Moda dos anos 20 possui algumas inspirações no Romantismo, como as saias volumosas, os vestidos decotados, mas mais justos e drapeados, os acessórios delicados com pérolas. Porém, foi a época marcada pela exuberância, irreverência e o estilo romântico revelou totalmente o seu lado mais sedutor, com as blusas e vestidos em renda, as franjas e transparências. Outro pormenor importante eram as meias rendadas ou as meias de liga utilizadas com os vestidos e saias, o estilista Jacques Doucet subiu ligeiramente as saias que produzia, para evidenciar esse pormenor nas pernas.


Os tons preto e vermelho eram os mais usados na época, associados a paixão, sofisticação, luxúria, elegância e sensualidade.
A estilista Coco Chanel tornou moda os cabelos curtos, assim como o uso de boina, colares compridos e o blazer. Foi também quando o batom vermelho surgiu como elemento imperativo na maquilhagem.

Estava dado um dos principais passos para a emancipação feminina na vida europeia, onde a moda assumiu tantas vezes o papel de termómetro da sociedade, para evidenciar estados de espírito e medir a temperatura do contexto político. A utilização do blazer foi importante para as mulheres que agora ingressavam no mercado de trabalho, visto que era uma peça associada aos homens de negócios.
Ainda nos anos 20, as rendas eram muito utilizadas como roupa interior e nos vestidos de casamento, como sinal de romantismo e pureza.



Passou pouco mais de um século desde esta altura, estamos em 2025 e o estado de uma democracia em liberdade, tem permitido a consolidação da emancipação feminina e o atual posicionamento da mulher na sociedade: que pode decidir o seu futuro como melhor entende, seja num relacionamento, com ou sem filhos; optar pela carreira profissional e ser bem sucedida; dividir as tarefas domésticas tem deixado de ser um tabu. Tudo isto, não impede a figura feminina de cuidar de si e de se vestir da forma que mais gosta e se sente mais confortável.
Contudo, em pleno século XXI, há ainda muitos problemas e debilidades por resolver em diversas sociedades espalhadas por vários pontos do mundo, onde as mulheres continuam a ser vistas como adereços; sem vontade própria; sem puderem estudar e trabalhar; sem conseguir fazer algo tão simples como acordar de manhã, ler o jornal e vestir o que mais gostam.
Até nós que vivemos (aparentemente) numa sociedade livre e democrática, somos confrontad@s com diversas adversidades e não conseguimos controlar a mentalidade de pessoas que não respeitam a democracia e a liberdade que lhes são concebidas.
As tendências da moda acompanham a evolução das sociedades e adaptam-se a diferentes condições, tais como a democratização da moda e a moda sem género.
O conceito de romantismo pode mesmo servir para descrever a idealização (ou romantização) de uma sociedade perfeita, onde tentamos levantar bandeiras relevantes e desmistificar preconceitos.
O Romantismo vive-se sob diversas formas e interpretações, acompanhando as tendências de cada época, seja na Política, na Economia, na Arte, na Moda…
O romantismo da HB Curator
Tal como referi no início do artigo, após analisar as recentes criações de Helena Branquinho para a sua marca própria, HB Curator, pensei automaticamente em três conceitos que, na minha perspetiva, definem a marca: romantismo, sofisticação e intemporalidade.
Helena Branquinho lançou a HB Curator no final de 2024. Nessa altura, em declarações à FashionHub referiu que a marca é “para mulheres sofisticadas e criativas”.
Depois de analisar as peças da marca encontro um denominador comum: uma ode à autoestima e amor próprio. Para que entendam melhor, começo por explicar que a HB Curator tem uma visão disruptiva da moda, por isso lança roupa tendo em consideração os elementos fundamentais para um guarda-roupa completo e não tendências assentes na produção em grande escala. A fundadora da marca pretendia um modelo de saia com que se sentisse bem e valorizasse as formas de uma mulher com anca mais larga, passou à ação e criou uma das peças-chave da HB Curator.
A intemporalidade surge assim como uma das características principais. O destaque recai no vestido preto e nas saias que se adaptam a todos os tipos de corpos, disponíveis em branco e preto.



O conceito intemporal pode também ser o resultado proveniente da inspiração no estilo romântico, ou seja, ter uma associação direta às diferentes fases históricas que abordei neste artigo, mas que adaptaram tendências da moda tipicamente associadas ao romantismo, de acordo com o contexto social e político que as envolvia. Afinal, a moda é cíclica…
Dessa adaptação sobressaem diversos componentes na HB Curator, o corte e volume da saia, o veludo, as rendas, o peplum e os cintos que conferem estrutura a qualquer indumentária. Aqui entra o terceiro conceito que caracteriza esta marca – sofisticação -, porque apesar de clássicas à primeira vista, as peças surgem com pormenores que as tornam elegantes e contemporâneas.
Como extensão da sofisticação, posicionam-se também as duas peças lançadas recentemente, e as verdadeiras “culpadas” por estares a ler este artigo: uma blusa de renda preta, cor da sofisticação e elegância e um casaco curto vermelho, cor da paixão e sensualidade, ambas desenhadas tendo como inspiração o “look perfeito” para o encontro mais romântico do ano, no dia de São Valentim. No entanto, são também sinónimo de sensualidade e elegância para celebrar o amor próprio.

A peça trabalhada em renda, tapa toda a região frontal, incluindo o colo, mas tem um decote nas costas, quase a lembrar algumas peças dos loucos anos 20 e pode ser combinada com calças clássicas ou saia e até ser utilizado o peplum da HB Curator para realçar a silhueta e marcar a diferença na composição. A peça pode ser combinada com o casaco vermelho ou com um blazer ou casaco de pelo, por exemplo, dependendo da ocasião, como um jantar com amigas, um dia no escritório, o que quiseres. Outro aspeto relevante são os acessórios, opta por peças simples e delicadas que ajudem a compor não só o estilo romântico, mas a manter a sofisticação e elegância. Mas sobre isto a Helena Branquinho dá também uma ajuda, porque na página de Instagram (@helenabranquinho) podem encontrar diversas dicas de estilo.


O casaco vermelho pode ser facilmente usado em qualquer altura, tanto com roupas mais clássicas, ou com calças de gangaA ganga (em inglês, denim) é um tecido de sarja de algodã... ver mais..., uma blusa branca, camisola de gola alta, é só adaptares ao teu estilo e ocasião. O corte do casaco e a gola conferem um estilo simples, mas delicado.


As peças são minimalistas, inspiradoras, transmitem a ideia de uma mulher emancipada, destemida, capaz de seguir com os seus ideais e pronta para enfrentar cada dia com confiança. Uma premissa que deveria representar a vida de todas mulheres do mundo.
Como conclusão, deixo-vos uma reflexão sobre tudo o que tentei transmitir com este artigo, devemos olhar para a moda como mais do que uma forma de expressão, mas um mecanismo para nos libertar das amarras da sociedade e das suas imposições sobre o que que devemos vestir para agradar alguém. Deves vestir o que te faz sentir confortável, emponderad@ e bonit@, seja no “Dia dos Namorados”, ou em qualquer outra data ou celebração.
Sobre a HB Curator: para mais informação sobre as peças contactem Helena Branquinho através das páginas de Instagram: @ helenabranquinho e @ hb_curator.