Quanta água é usada na produção da minha t-shirt?

Provavelmente nunca te questionaste em relação a isto, muito menos quando vais às compras. Segundo os dados da Fundação Ellen MacArthur o consumo global de água é alarmante para a indústria têxtil: 93 mil milhões de metros cúbicos de água por ano. Cerca de 4% dos recursos de água potável do mundo.

Provavelmente nunca te questionaste em relação a isto, muito menos quando vais às compras. Segundo os dados da Fundação Ellen MacArthur o consumo global de água é alarmante para a indústria têxtil: 93 mil milhões de metros cúbicos de água por ano. Cerca de 4% dos recursos de água potável do mundo.

Estes números são suficientemente demonstrativos de um dos graves problemas que a Indústria Têxtil precisa de colmatar, além do desperdício e da superprodução. Assim, o início deste artigo terá a resposta à pergunta que te trouxe até aqui, mas o objetivo é fazer-te pensar em todos os dados alarmantes sobre o consumo e poluição causados pela indústria têxtil.

Uma t-shirt básica de algodão e cor branca precisa de 2700 litros de água na sua produção, o equivalente ao consumo médio de água por pessoa durante 2 anos e meio. (fonte: Fundação Ellen MacArthur)

Em média 93 mil milhões de metros cúbicos de água são gastos por ano pela indústria têxtil, principalmente na produção de matérias-primas como o algodão, nas etapas de tingimento e secagem, mas também durante a utilização dos consumidores. Além disso, são usadas 43 milhões de toneladas de químicos por ano, o que constitui 20% da poluição industrial.

A oferta constante de novos estilos a preços reduzidos promovida pela fast fashion, aumentou criticamente a quantidade de peças de roupa produzidas e descartadas.

A Agência Europeia do Ambiente estima que entre 1996 e 2012, a quantidade de roupas compradas por pessoa na União Europeia (UE) aumentou 40%.

Para fazer face ao impacto ambiental, a UE pretende reduzir os resíduos têxteis, aumentar o seu ciclo de vida e promover a reciclagem. Estes objetivos fazem parte do plano para alcançar uma economia circular (na indústria têxtil) até 2050.

Poluição da água

A produção têxtil é responsável por cerca de 20% da poluição da água potável a nível mundial, devido à utilização de produtos para tingimento e acabamento. As sobras do processo de tingimento, por norma, são despejadas em lagos, ribeiros ou rios.

A lavagem de vestuário sintético é responsável por 35% dos microplásticos primários libertados no ambiente. Uma única lavagem de vestuário de poliéster resulta numa descarga de 700 000 fibras de microplásticos que podem entrar para a cadeia alimentar.

35% dos microplásticos libertados para o oceano são provenientes do desgaste de têxteis sintéticos durante as lavagens, o que gerou uma acumulação de mais de 14 milhões de toneladas de microplásticos no fundo dos oceanos. Além deste problema a nível global, a poluição gerada pela produção de vestuário tem um impacto devastador na saúde das populações locais, dos animais e dos ecossistemas onde as fábricas estão localizadas.

A maioria dos microplásticos dos têxteis é libertada durante as primeiras lavagens. Por isso, se continuarmos a consumir nesta proporção, ou seja, cada vez mais, vão também existir mais “primeiras lavagens” de peças de vestuário.

Ainda não existem filtros suficientemente finos nem nas máquinas, nem nas estações de tratamento dos esgotos que possam impedir a passagem destas fibras – são normalmente de poliéster, polietileno, acrílico ou elastano.

A Europa e a Ásia Central despejam o equivalente a 54 sacos de plástico em microplásticos por pessoa e por semana nos oceanos.

Matérias-primas

O impacto ambiental das indústrias têxteis e de vestuário tem início na produção das matérias-primas. O couro e as fibras naturais (seda, algodão, ) são os materiais com maior impacto, mas o mesmo material pode ser mais ou menos nocivo para o ambiente, dependendo do cultivo ser intensivo ou mais sustentável. Duas das matérias-primas que mais contribuem para o uso de água e trazem mais problemas ambientais são também as mais usadas na indústria têxtil – o algodão e o poliéster.

Por isso, enquanto consumidor deves ter em atenção ao impacto ambiental de cada matéria-prima, para isso é necessário verificares a etiqueta com a composição dos produtos. O algodão é um recurso natural e renovável, mas a sua produção, como já foi mencionado neste artigo, pode consumir muita água. O poliéster provém do petróleo e não é biodegradável. A opção mais sustentável é sempre reutilizar e usar o tecido que já existe – algodão e poliéster reciclado -, para evitar as consequências da produção de novos materiais.

Em seguida, são deixadas algumas vantagens e desvantagens destas matérias-primas.

Vantagens do Algodão
  • Quanto mais algodão tiver na peça (verificar composição da peça na etiqueta interna), mais confortável ela vai ser.
  • Possui propriedades que permitem que o corpo “respire” melhor e adapta-se a diferentes temperaturas, principalmente ao calor. Evita mau odor na roupa.
  • Mais durabilidade do que as peças de tecido sintético, pois é uma matéria-prima mais resistente à temperatura e às lavagens
  • Resistente a traças e insetos
  • Tem uma textura delicada o que proporciona um aspeto mais cuidado e elegante às peças de roupa
Desvantagens do Algodão
  • Utilização de muita água e fertilizantes na sua produção, o que provoca poluição da água e erosão dos solos.
  • Necessidade de uso abundante de água fria nas lavagens, porque as altas temperaturas podem encolher a peça.
  • As peças de malha geralmente têm muito algodão na composição (não é uma regra, o ideal é verificar a etiqueta), e por isso, são peças que devem ser guardadas dobradas nas prateleiras ou gavetas do guarda-roupas, pois podem deformar-se se ficarem penduradas em cabides.
  • As peças de roupa produzidas com algodão amarrotam com mais facilidade, portanto à necessidade de passar a ferro com frequência, o que acarreta gastar mais energia.
  • Pode soltar cor com mais facilidade, o que contribui para um desgaste acelerado da peça de roupa.

A roupa com mais algodão na composição (ou 100% mais algodão) é mais cara, mas tem maior durabilidade, pode ser vantajoso pensar na relação preço x qualidade.

Vantagens do Poliéster
  • Apesar da sua matéria-prima ser o petróleo, substância não renovável, o poliéster é totalmente reciclável. Lembre-se que o poliéster é plástico, e assim como as garrafas PET pode ser convertida para diversos usos. Contudo, é comum a mistura de outras fibras naturais nos tecidos de poliéster para conferir maior leveza às roupas, processo que inviabiliza a reutilização desta fibra sintética.
  • Devido à sua baixa capacidade para absorção de humidade, a resistência do tecido ao impacto quase não se altera quando o mesmo está molhado ou seco, sendo até 20 vezes mais resistente em comparação com a fibra de viscose.
  • A elasticidade permite que este material não se amarrote e nem fique com vincos.
  • A utilização deste material não se limita ao vestuário, pois é comummente utilizado na produção de lençóis, cortinas, móveis e estofados.
Desvantagens do Políéster
  • O tecido de poliéster tem alta retenção de calor. As roupas podem causar desconforto em épocas de altas temperaturas, pois bloqueiam a circulação de ar através do tecido.
  • O poliéster é produzido a partir do petróleo, fonte de energia não renovável e de processo de extração poluente.
Alternativas ao algodão e poliéster

Em alternativa ao poliéster e ao algodão, na falta de outra opção ou possibilidade de enquadrar outra matéria-prima, é preferível optar por algodão orgânico ou poliéster reciclado.

O algodão orgânico tem algumas vantagens em relação ao algodão convencional: não são utilizadas sementes transgénicas; não utiliza fertilizantes químicos e tóxicos para o ambiente e os seres humanos; a utilização de rotação de culturas e fertilizantes orgânicos para enriquecer o solo da cultura; controla pragas com métodos biológicos, sem pesticidas; faz uma gestão mais eficiente da água de irrigação, o que permite até 50% menos água que é utilizada do que no cultivo extensivo; reduz a poluição do ar, da água e do solo; a colheita manual do algodão, evita a colheita mecânica intensiva com herbicidas; favorece os agricultores tradicionais e a economia local; menos produção de gases com o efeito de estufa; os direitos laborais são garantidos com condições de trabalho decentes.

As vantagens para optar por peças de roupa produzidas com poliéster reciclado são que o seu fabrico não requer a extração de petróleo novo; reduz a forte dependência do sector têxtil do petróleo como matéria-prima, bem como a sua procura; gera 75% menos emissões de CO2 e requer menos energia do que o poliéster virgem; tem um efeito negativo muito menor sobre o ambiente; reduz a quantidade de resíduos. O rPET evita que os plásticos acabem em aterros e, portanto, ajuda a reduzir as emissões tóxicas nas instalações de incineração.

Da próxima vez que fores às compras verifica na etiqueta a composição do produto, ou seja, as matérias-primas utilizadas e que impacto vai ter a tua compra no planeta.