O ano 2024 promete novos desafios para a Indústria da Moda

O The State of Fashion 2024, aponta a inteligência artificial e o turismo como oportunidades. No entanto, o panorama geopolítico, económico, legislativo e as alterações climáticas, traçam os desafios para o próximo ano, na Indústria da Moda.

O The State of Fashion, é um dos mais reconhecidos relatórios na área da moda e utilizado como fonte em diversos artigos científicos. É elaborado pelo Business of Fashion (BoF) e pela consultora McKinsey & Company e os resultados da última edição identificam as 10 áreas-chave para a indústria da moda no próximo ano. A sustentação das informações recolhidas é feita com base em dois inquéritos mundiais realizados a executivos e consumidores de moda.

Uma das principais conclusões que saltam à vista na análise do estudo, é que as projeções apontam que o crescimento da indústria seja de apenas 2% a 4%. Tal facto deve-se ao momento de incerteza devido aos desenvolvimentos macroeconómicos, refere Achim Berg, senior partner da McKinsey e diretor do estudo. Berg ressalva também que o crescimento global das vendas no segmento de luxo deverá desacelerar entre 3% a 5% no próximo ano, devido à contenção de gastos dos consumidores após um aumento nas compras pós-pandemia.

Na perspetiva dos profissionais, 38% dos executivos de moda que responderam acreditam que as condições vão piorar no próximo ano, 37% apontam para a possível manutenção dessas condições e 28% preveem uma degradação.

Porém, nem tudo são resultados preocupantes, a tecnologia de inteligência artificial generativa cresceu este ano, impulsionada por financiamentos, só no primeiro semestre, na ordem dos 14,1 mil milhões de dólares para start-ups focadas na área. Quanto à relação entre a indústria da moda e a inteligência artificial, o estudo aponta que 25% da utilização dessa tecnologia pode ser uma mais-valia para o design e desenvolvimento de produtos.

A ascensão da inteligência artificial generativa proporciona uma oportunidade criativa para a indústria da moda: já estamos a assistir ao surgimento de vários casos de utilização. Para captar o valor desta tecnologia transformadora no próximo ano, os executivos de moda terão de olhar para além da automatização e explorar o seu potencial para expandir o trabalho dos seus criativos.

Gemma D’Auria, senior partner e responsável da área de vestuário, moda e luxo da McKinsey

A relação entre turismo e moda também vai conhecer novas perspetivas em 2024. Segundo os consumidores inquiridos, este será o ano em que vão efetuar o maior número de viagens desde a pandemia. A previsão é que o turismo global, em 2024, ultrapasse os níveis de 2019 num valor até 10%. Este indicador representa uma oportunidade lucrativa para as marcas, principalmente porque as compras são o tópico principal para viajar: 80% dos consumidores inquiridos dos EUA, Reino Unido e China planeiam fazer compras de moda durante as férias e 28% esperam gastar mais nessas compras durante a viagem face ao ano anterior.

As alterações climáticas afetam negócios

O ano 2023 ficou marcado por diversas consequências provocadas pelas alterações climáticas. O estudo revela que este é um fator que as marcas estão a ter cada vez mais em consideração e que pode traduzir-se num risco significativo para o crescimento da indústria da moda. Os dados do The State of Fashion 2024 antecipam que os fenómenos climáticos extremos possam ter um impacto de 65 mil milhões de dólares nas exportações de vestuário e ameaçar um milhão de postos de trabalho em quatro grandes economias até 2030.

Todas as áreas da indústria da moda são afetadas pelas alterações climáticas, desde produção de matérias-primas, até à logística e distribuição. “No próximo ano, estas deverão ser objeto de um maior escrutínio com as novas regras de sustentabilidade na Europa e nos EUA, que exigirão que as marcas e os fabricantes redobrem as iniciativas que reduzem as emissões e o desperdício, protegendo simultaneamente os recursos naturais e integrando estratégias climáticas nas suas empresas”, indica o comunicado que apresentou o estudo.

O relatório indica que apenas 12% dos executivos citam a sustentabilidade como uma área primordial a desenvolver em 2024, uma vez que os executivos de topo da indústria da moda reconhecem que uma série de outros desafios irão disputar a sua atenção no próximo ano.

O The State of Fashion 2024 além das alterações climáticas, a sustentabilidade e as oportunidades devido ao turismo, indica mais alguns fatores relevantes para a indústria: o papel dos influenciadores, a popularidade do vestuário técnico para atividades ao ar livre, a evolução da fast fashion, a legislação para a sustentabilidade e a importância das parcerias estratégicas na cadeia de aprovisionamento.