O “ramie de urtiga”, também conhecido como “rami”, é a fibra têxtil mais antiga da Ásia, utilizada muito antes da seda ser a matéria-prima mais associada a esta região do Globo. Devido ao longo comprimento, as fibras finas do rami possuem um aspeto com brilho, tal como as fibras de seda convencional. É por isso que são apelidadas de “seda vegana”, no entanto, trata-se de uma matéria-prima mais barata. A planta de rami tem função antibacteriana e é perfeita para se desenvolver em climas tropicais quentes e húmidos. É também oito vezes mais forte que o algodão, e tem densidade e absorção comparáveis ao linho. Pode ser colhida quatro vezes por ano, o que classifica a planta como um recurso de regeneração rápida.
O uso intensivo de algodão e de fibras à base de petróleo, como o acrílico, poliéster e nylon não é sustentável para o meio ambiente devido ao elevado consumo de água e produtos químicos. As marcas devem procurar alternativas sustentáveis para produzir fibras e tecidos, e as inovações têxteis estão a ser procuradas em todo o mundo, sendo que um dos casos mais comuns é o da urtiga (Urtica dioica), uma planta amplamente distribuída em vários países. Esta planta cresce de forma rápida e abundante em locais com pouca água e sem produtos químicos.
O futuro é agora, por isso já existem diversos testes efetuados que comprovam os benefícios da utilização desta matéria-prima e também há marcas que já a utilizam.
Perfeita para o têxtil
A Urtiga é conhecida pelos seus efeitos nocivos para a pele humana e pela forma como cresce massivamente em terrenos que servem para plantações de alimentos. O seu sistema radicular, ou seja, a parte da planta que é responsável pela sua fixação no solo, para absorção de água e nutrientes contribui significativamente para a conservação do solo e reduz a desflorestação. A urtiga selvagem tornou-se a fibra sustentável dos Himalaias, ou seja, é uma ótima alternativa como fibra têxtil, pois é a fibra natural mais longa do mundo e é muito flexível. Devido à sua estrutura oca, é mais brilhante e forte, amarrota com menos facilidade do que outras fibras naturais. Deste modo, quando esta fibra é processada, a roupa atinge propriedades semelhantes. De acordo com muitos especialistas, é uma excelente alternativa para substituir a maioria das fibras sintéticas e o algodão.
O rami confere ainda mais resistência quando é misturado com outras matérias-primas, por isso, é comum vermos determinadas combinações na composição de peças de roupa. Por norma, uma peça é confecionada com 55% de rami e 45% de algodão ou com outras fibras que devido à sua resistência, absorção, brilho e afinidade com corantes:
• O rami misturado com algodão, resulta em peças com mais brilho, resistência e cor.
• O rami misturado com lã, resulta em leveza e minimiza o encolhimento das peças de roupa.
Só recentemente, a fibra tem sido motivo de interesse na indústria da moda. A HWF (Himalayan Widllife Foundation) exporta a fibra fabricada, que é utilizada principalmente para a produção de fios e tecidos de luxo que são utilizadas nas coleções de marcas famosas como Eileen Fisher, Stella McCartney, Hèrmes e Chanel.
Em Portugal, um dos exemplos é a marca SE VISTA que usou rami de urtiga na sua mais recente coleção (podem ler o artigo aqui).
Benefícios da fibra de rami
- Resistente a manchas, bactérias, fungos, raios solares e insetos.
- Rápido crescimento com a utilização de água da chuva.
- Não há necessidade de pesticidas químicos.
- Baixa elasticidade para não encolher facilmente, mesmo depois de lavado.
- Suporta elevadas temperaturas de água.
- Tingimento fácil e pode ser branqueada.
- Absorve o calor e liberta humidade (apropriada para usar na confeção de roupa para climas quentes)
- Seca rápido.
- É brilhante, macia ao toque e mais resistente que o algodão ou lã.
Desvantagens da fibra de rami
- Amarrota com facilidade, mas menos que o linho.
- Baixa resistência à abrasão.
- Rígida e quebradiça, a menos que seja misturada com outras fibras como algodão, viscose ou poliéster.
- Baixa elasticidade.
- Preços mais altos devido ao aumento dos custos de produção.
Fotografia: vestuário da marca portuguesa SE VISTA