A ideia para desenvolver a Fashion Green Hub surgiu num complexo pequeno em Roubaix, em 2018. A 17 de outubro de 2023, cinco anos depois, a associação inaugurou oficialmente a sua versão parisiense. O espaço colaborativo de 342 metros quadrados, equipado com máquinas têxteis, para desenvolvimento de diversos projetos que invocam por uma moda mais sustentável.
Paris é mundialmente reconhecida como capital da moda, contudo apenas 5% das roupas vendidas em França são produzidas no país. As marcas de fast fashionA indústria da moda é a segunda mais poluente do mundo, a ... ver mais..., fabricadas essencialmente na Ásia, provocam ainda hoje graves debilidades na indústria têxtil, não só em França, mas no mundo. Assim, deu-se a aceleração de um processo que transformou a moda na segunda indústria mais poluente do planeta, apenas atrás da indústria petrolífera.
Desde os anos 1990, a cadeia de fabricação tornou-se cada vez mais sintética, ou seja, banalizou-se o uso de matérias-primas derivadas do petróleo e a utilização abundante de produtos químicos tóxicos. Na maioria dos casos estes componentes são nocivos para o meio ambiente e para a saúde humana. Além disso, provocou uma descida dos preços nas lojas e estimulou um padrão de consumo desenfreado, que depende de uma rede global de transportes, o que tem impacto direto nas emissões de gases do efeito de estufa (GEE).
Foi sob este contexto que foi desenvolvido um espaço para iniciativas que invocam por uma moda mais sustentável e controlar estes problemas – o Fashion Green Hub Paris.
Paris, capital da moda, capital do luxo. Nós trouxemos a nossa iniciativa pela mudança a todo o setor: do luxo até o pequeno artesão, passando pela indústria, pelos operários envolvidos na cadeia da criação têxtil – e este talvez seja o combate mais importante. Em Paris, temos uma grande visibilidade: poderemos dar ideias para outras regiões do mundo
diretor-geral, Lucas Thivolet
A agência francesa da Transição Ecológica (Ademe) afirma que são vendidas em todo o mundo 100 biliões de toneladas, para vestir uma população de 8 biliões de indivíduos. Cada pessoa compra, em média, 40% mais peças do que fazia há 15 anos, e usa durante menos tempo as peças de vestuário “acabadas de comprar”. O impacto ambiental do setor têxtil chega a ser maior do que o dos transportes aéreo e marítimo juntos, alerta a respeitada agência.
Concorrência asiática
A regra principal para combater este problema é comprar menos e melhor. Um dos objetivos do Fashion Green Hub é reaproveitar as toneladas de tecidos não aproveitados nas fábricas e reciclarO conceito reciclabilidade refere-se à potencial adequaçã... ver mais... as peças consideradas fora de moda.
O hub surgiu em Roubaix, antigo pólo da indústria têxtil francesa que quase foi à falência após a emergência do prêt-à-porter com preços mais acessíveis made in China. Para o diretor-geral do hub, as marcas francesas não terão futuro se continuarem a tentar concorrer com o mercado asiático – a solução, para ele, passa pela valorização da cadeia de produção francesa graças a uma produção menos poluente.
A transformação inclui voltar a priorizar materiais naturaisOs materiais naturais estão sob duas categorias: os que sã... ver mais... e a fabricação de tecidos com um uso mínimo de água, agrotóxicos e processos químicos. A tecnologia é outra aliada crucial neste combate: a maquinaria moderna permite controlar o desperdício de matérias-primas.
Após um ano de implementação na capital, com apoio do governo local, a iniciativa passou de 400 para 530 parceiros, entre eles nomes como Petit Bateau, Agnès B. e Jules.
O espaço também reúne startups e jovens criadores determinados a iniciar a carreira com peças sustentáveis. É o caso da iraniana Azine, que começa a tirar do papel a sua primeira coleção, inspirada na resistência da mulher iraniana.
Existem tecidos transparentes que representam uma forma de liberdade, para mim. Eu quis mostrar tudo que, na minha perspetiva, dá poder às mulheres e mostra o que acontece no Irão. Aqui, encontro mesa para cortar, máquinas, tudo o que preciso. Uso roupas em segunda mãoA atividade que promove a compra e venda de peças usadas ta... ver mais... e stocks não utilizados de uma grande maison.”
Azine, jovem criadora
Legislação mais rigorosa
Lucas Thivolet ressalva que o Fashion Green Hub está particularmente atento ao greenwashingEste é um conceito que define as práticas da maioria das e... ver mais....
Com certeza há uma distância entre as palavras e os atos, os resultados. Entre as empresas que estão muito envolvidas, algumas estão atrasadas. Querem entrar na nossa rede, mas ainda não se transformaram. Temos visto muitas marcas médias francesas fecharem e uma das principais razões é que o setor deve reinventar-se e rápido, porque o desafio é imenso e a transição está em curso. Se não existir mudança na forma de produzir e no paradigma económico, muitas vão desaparecer, e muito mais rápido do que pensam.
Lucas Thivolet
Neste sentido, as mudanças na legislação francesa têm sido pioneiras para obrigar as empresas a evoluir. Desde 2018, por exemplo, estão proibidas de descartar restos de tecidos ou stocks não utilizados. A Lei Contra o Desperdício inclui maior transparência sobre informações, tais como onde a peça foi fabricada, com que materiais e como pode ser reciclada.
Na União Europeia, a partir de janeiro de 2025, entra em vigor uma nova lei que obriga os países-membros a separar os têxteis do lixo. O objetivo é a reciclagem desses resíduos. Lucas Thivolet espera que as incitações ocorram também pela via económica, como um aumento do imposto de importação para produtos têxteis e incentivos fiscais para quem produzir com menor impacto ambiental.