Luís Buchinho celebra 35 anos de carreira e para assinalar este marco, o designer nacional reuniu amigos, alunos, colegas de profissão e entusiastas por moda, num desfile na Universidade Lusófona, no Porto.
Durante o seu percurso profissional, Luís Buchinho somou conquistas e novos projetos. Um dos mais recentes foi uma espécie de desafio numa nova vertente: lecionar no curso de Design e Produção de Moda da Universidade Lusófona.
Alexandra Cruchinho, professora nesta instituição, tornou-se numa das figuras centrais desta história, ao ser a responsável por incentivar Luís Buchinho a integrar a área de ensino. No entanto, além disso, propôs ao designer a criação de uma coleção em conjunto com a turma do primeiro ano da licenciatura.

O Luís (Buchinho) vestiu muito bem a camisola de Professor, dedicando-se por inteiro ao ensino, o que o levou a considerar que não ia ter tanta disponibilidade para fazer e apresentar uma coleção. Foi por isso que lhe lancei o desafio de trabalhar um projeto perante os alunos. É uma forma de terem a perceção de como é que se trabalha numa produção real e se superam as dificuldades.
Alexandra Cruchinho, docente Universidade Lusófona
Este foi o ponto de partida para o desenvolvimento de “Love”, a coleção outono-inverno 2025/26, assinada por Luís Buchinho (e os seus alunos), já apresentada na edição 64 da ModaLisboa.
No dia 22 de março de 2025, o número 123 da Rua Alexandre Herculano, no Porto, morada de um dos pólos da Universidade Lusófona na “cidade Invicta”, recebeu o desfile de homenagem e celebração dos 35 anos de carreira do consagrado criador nacional.
A FashionHub Portugal marcou presença no evento e esteve nos bastidores do desfile a acompanhar os preparativos finais, aproveitando a ocasião para fazer uma entrevista a Luís Buchinho, que poderás ler mais à frente, neste artigo. No final, mostramos um pequeno vídeo com as principais imagens da azáfama dos bastidores, do desfile e breves declarações do designer, organização e estudantes.
Bastidores do desfile
Faltavam poucos minutos para as três da tarde, quando cheguei ao local do desfile e encontrei a Professora Alexandra Cruchinho que, no meio da correria de quem é responsável pela organização, rapidamente integrou a FashionHub no ambiente da equipa de produção.
Uma das salas de aula era o cenário para as modelos serem maquilhadas e penteadas, mas também ajustavam roupas, experimentavam calçado e analisavam o percurso do desfile. No meio disto, encontrei alunos de olhar atento e curioso que alargavam o conhecimento em design para outras áreas tão importantes como a produção e a comunicação.
Por isso, entre o burburinho dos bastidores, estive à conversa com dois estudantes que participaram na confeção de algumas peças do desfile: o Gonçalo e a Mariana.

Para Gonçalo, o desafio lançado em sala de aula por Luís Buchinho foi “uma surpresa”: “com o desenrolar das tarefas tornou-se possível e foi uma maneira de nós aproveitarmos a oportunidade e esta experiência, com o Professor Luís”, revelou à FashionHub Portugal.
Ainda tivemos oportunidade de ver mais perto uma das peças que ajudou a desenvolver, em parceria com a colega Soraia, uma saia cujo principal desafio foram as costuras, tal como explicou Gonçalo.
No entanto, para Mariana foi um “sonho tornado realidade” e, acrescenta, “gostei de acompanhar a confeção das saias. Deu trabalho, principalmente a técnica de colocação das varetas, mas foi um bom resultado.”
Para Alexandra Cruchinho, a participação dos alunos é fundamental não só na confeção, mas também nas áreas de produção de eventos e comunicação com a imprensa, pois um dos objetivos da Universidade é lançar os alunos em “desafios reais”, referiu à FashionHub.
“Love”, é uma coleção que une a experiência do designer à energia e criatividade de jovens talentos, que reinterpreta conceitos de Moda, ao mesmo tempo que se consolida com a imagem de marca Luís Buchinho. Esse caráter distintivo é conseguido através de silhuetas intemporais, contemporâneas e sofisticadas realçadas pelos tons preto e verde, numa coleção predominantemente dominada por cores claras.

O desfile contou com casa cheia, para uma homenagem que culminou num cocktail de celebração e onde se podia observar a exposição com ilustrações e outros trabalhos dos alunos, realizados durante o primeiro semestre.

O Luís Buchinho é um dos designers de referência para todos nós. Para mim inclusivamente, além de ser uma pessoa muito amiga e por quem eu tenho uma grande admiração em termos pessoais e profissionais, para mim faz muito sentido esta homenagem que lhe estamos a fazer. É a homenagem merecida a 35 anos de uma carreira cheia de sucessos.
Alexandra Cruchinho, docente na Universidade Lusófona

Entrevista a Luís Buchinho
Se tivesse de descrever estes 35 anos de carreira em apenas uma palavra, a escolhida seria “Love”? Como descreve o seu percurso?
Luís Buchinho (LB): Sim… (risos) escolheria a palavra “Love”… Aliás, eu escolhi a palavra ”Love” para descrever esta coleção, mas penso que realmente é uma prova muito grande de entrega absoluta a 35 anos de uma carreira como esta, pontuada por momentos muito altos, alguns difíceis, muitos sonhos e de muitas proezas, que eu considero que estão ligadas a uma entrega de amor incondicional.
Ainda se recorda do seu primeiro desfile?
LB: Lembro-me de quando tinha 20 anos e ganhei o primeiro prémio da Portex, na altura era uma feira que existia no Porto e tinha um concurso para jovens estilistas. Esse foi um momento áureo e permitiu-me ganhar um prémio financeiro, que seria investido para lançar a minha carreira de uma forma mais confortável. A partir daí recordo-me da primeira ModaLisboa em que participei, da sensação de desconhecido total em que nós todos saltámos em 1991, para fazer desfiles individuais e para uma logística imensa, sem ter propriamente grande conhecimento. Na altura eu era muito novo (risos), agora tenho consciência disto, mas se calhar na altura não pensava isso, ou seja, de que foram momentos que decidiram muita coisa para o meu futuro, definiram o que eu queria fazer e, de repente, passaram 35 anos!
Nestes 35 anos, o mundo sofreu diversas alterações, seja a nível tecnológico, político, económico, social… Acredita que isso também tem influência na forma como desenvolve as suas criações?
LB: Tem uma mega influência! A minha vida mudou radicalmente depois da era Covid. Acho que estes últimos 5 anos têm sido de mudanças avassaladoras para o mundo, que não são boas, na minha opinião. Estamos todos num momento muito delicado, no avanço de regimes que considero extremamente perigosos para a sociedade e, obviamente, isso tem um reflexo enorme. As marcas de autor e pequenas, como a minha, ficam muito mais fragilizadas e comprometidas. Atualmente, há um domínio gigantesco das grandes empresas e dos grandes grupos capitalistas, que acabam por controlar o mercado. Na minha perspetiva, penso que vivi uma altura muito boa, entre os anos 2000 a 2010, em que era possível dentro de uma cidade haver lojas como a minha, porque ainda conseguíamos ter acesso a esse tipo de espaços a um preço comportável. Hoje em dia, isso está cada vez mais difícil e vai ser muito complicada a sobrevivência de marcas alternativas.
Já que estamos nesta perspetiva, outro dos grandes problemas, se assim o podemos considerar, é a “fast fashionA indústria da moda é a segunda mais poluente do mundo, a ... ver mais...”… Produzir em Portugal tem inúmeras vantagens, no entanto, como é garantir a conjugação de qualidade, criatividade, inovação e sustentabilidade?
LB: No meu caso, eu não noto uma grande diferença porque eu sempre desenvolvi produtos feitos em quantidades muito reduzidas, por ateliers muito específicos e um produto de longa duração… Sempre tive uma ideia de design muito atemporal, para ficar no armário muito para além da estação. Eu sei, através do feedback das minhas clientes, que estão a transitar peças para o guarda-roupa das filhas, ou seja, eu penso que um exercício maior do que este em termos de sustentabilidade é muito difícil. Eu tenho uma linha que favorece a silhueta feminina, penso que a minha marca sempre fez, de forma natural, um exercício de sustentabilidade e de design muito longínquo.
Lida com futuros jovens deisgners regularmente, nomeadamente, os seus alunos aqui da Universidade Lusófona. Que conselhos dá a quem pretende seguir a profissão de designer de moda?
LB: O primeiro grande conselho é que sejam curiosos. Temos de ter noção do panorama em que vivemos, daquilo que os nossos concorrentes estão a fazer, estudar o passado e verificar as técnicas e silhuetas já utilizadas. Tem de existir excelência técnica porque eu penso que não existe pior do que ter uma boa ideia, mas mal materializada. Eu não avalio propriamente tendências ou correntes estéticas, mas avalio e incentivo a excelência técnica e acho que nesse tópico tenho um legado muito grande que pode ser transmitido.
Como surgiu a ideia de criar uma coleção em conjunto com os seus alunos? Foi um desafio também para si?
LB: Eu não ia fazer um desfile desta estação, ia só apresentar a coleção em showroom e a Professora Alexandra Cruchinho fez-me o desafio de colocar toda a montagem em parte curricular. Como eu estou muito focado nas aulas, senti que poderia ser um exercício permaturo, mas ao mesmo tempo fiquei com alguma curiosidade, (risos) de como é que podia correr um processo deste género, porque os alunos começaram as aulas há muito pouco tempo, (outubro de 2024). Portanto, colocá-los em contacto com a materialização de uma coleção para uma marca de autor poderia ser algo ambicioso, mas ao mesmo tempo fiquei motivado para conseguir atingir o objetivo (risos). E foi um projeto que deu muito trabalho, tive de fazer muito acompanhamento, para lhes garantir todas as diretrizes necessárias, dar muitos conselhos, vigiar todo o processo, mas foi uma aposta muito bem conseguida.
Se daqui a 15 anos estivermos a celebrar os seus 50 anos de carreira. Eu espero que sim… Como considera que nessa altura vai descrever a sua marca?
LB: Se isso acontecer (risos), isso é uma incógnita muito grande porque é um espaço temporal muito alargado, mas acho que as diretrizes estão todas lançadas. Eu acho que basicamente é construir novas histórias, seguindo a mesma narrativa ou novas narrativas seguindo a mesma história, porque é aquilo que já acontece. Sempre com muita curiosidade técnica e uma vontade enorme de inovar. No fundo, o que poderá acontecer na próxima estação ou o que poderá acontecer daqui a 15 anos é praticamente a mesma coisa.