O casaco de pelo é uma das tendências do inverno 2024, mas não deixa de ser uma peça intemporal, facilmente utilizada nas estações mais frias e um clássico que, para quem gosta, é fundamental ter no guarda-roupa.
Apesar do pelo conferir mais elegância às peças, está envolto em grande controvérsia. Neste artigo exploro a história do casaco de pelo e apresento algumas propostas de marcas portuguesas nas suas coleções de inverno 2024, nomeadamente a NOPIN; CARLOS GIL; KAOÂ; MAUÎ; MARTI.
A História dos casacos de pelo
Desde sempre, os seres humanos utilizam peles de animais para se protegerem do frio. Só com o passar dos anos, através das descobertas entretanto desenvolvidas pela Ciência, foi possível alterar hábitos e encontrar alguns materiais que permitem confecionar as peças de roupa que vestimos atualmente.
As peles de animais, passaram de “usadas por qualquer pessoa”, para representar um símbolo de riqueza e status na sociedade sendo que, no século XIII, passaram a ser as preferidas da nobreza. Esta efervescência levou à imposição de leis para proibir outras classes sociais de utilizá-las.
Um decreto real francês de 1294, determinou que nenhum homem ou mulher não nobre poderia usar peles de arminho (animal pertencente à família das doninhas) ou de esquilo, pois seriam de uso exclusivo para elementos da aristocracia. Nesta época, o uso de peles começou a tornar-se mais versátil e sofisticado.
As primeiras aplicações foram produzidas para forro de capas e acabamentos. Nos séculos XI e XII, os chapéus, principalmente os que eram produzidos com pele de castor, eram considerados uma tendência. Em seguida, o sucesso seriam pesados chapéus de pele, luvas, e colarinhos.
O casaco de pelo que conhecemos atualmente surgiu no final do século XIX, na Inglaterra vitoriana, e trouxe uma novidade: era elegante ostentar pele do lado de fora da roupa, já que até então era um componente que fazia parte do forro, com exceção dos acessórios.
A pele tornou-se num ícone de luxo, quase ao nível de uma joia. As principais marcas de alta-costura, como Chanel e Christian Dior, viram nas peles um potencial de elegância para acrescentar às suas criações, sobretudo nos anos 1950.

A democratização do uso de peles, tornou estas peças informais e inovadoras. A lista de mulheres que usaram estas peças, incluía rainhas, mas também a estilista Coco Chanel e atrizes norte-americanas, como Marilyn Monroe.

No final do século XX, vestir peles de animais passou novamente a ser considerada uma questão de riqueza, principalmente dependendo do tipo de animal, como raposas ou focas. Porém, foi também nesta altura, anos 80 e 90, que vestir um casaco ou acessório produzido com peles de animais trouxe a público muitos problemas relacionados com a exploração animal para a confeção destas peças.
PeTA e invasões na passarela
O dia 22 de março de 1980 ficou marcado pela criação da PeTA (People for the Ethical Treatment of Animals). A organização tem como objetivo consciencializar para o consumo excessivo da carne animal, a utilização de animais em espetáculos, como por exemplo, o circo, as experiências científicas com animais, mas também a sua utilização pela indústria da modaA Indústria da Moda concentra diversas atividades, prática... ver mais.... Nos anos 90 e início dos anos 2000, a PeTA tornou-se mundialmente reconhecida por invadir diversos desfiles de grandes marcas durante as Semanas da Moda. Deixo dois exemplos dessas invasões:
Em 2002, Gisele Bundchen, atualmente uma ativista pelo meio ambiente, foi surpreendida pela PeTA durante um desfile. A modelo brasileira estava numa apresentação da marca Victoria’s Secret, quando um grupo de defensores pelos direitos dos animais invadiu a passarela com cartazes que diziam: “Gisele: for scum” (Gisele: escumalha das peles).

Embora a ação tenha ocorrido durante o desfile da marca de lingerie, o protesto, era uma resposta a uma campanha publicitária que Gisele Bundchen tinha protagonizado para a marca de casacos de pele Blackglama. O que os ativistas não podiam imaginar, é que esse momento seria crucial para Gisele repensar o impacto das suas escolhas profissionais e seguir um caminho como ativista ambiental.
Recentemente, no desfile primavera-verão 2024 da Coach, durante a Semana da Moda de Nova Iorque, um grupo liderado pela ativista Sasha Zemmel, invadiu a passarela do evento com fatos que fingiam ser tendões, carne e músculos, envergando cartazes com a frase: “Coach Leather Kills” – em português “O couroO couro é um material que deriva de animais de diferentes e... ver mais... da Coach mata”.

Pele sintética (prós e contras)
As marcas, pelo menos algumas, começaram a introduzir alterações na forma de produzir e a ter uma abordagem mais ética na sua comunicação e na forma de vender o produto. Podemos mesmo dizer que elegância é tratar bem os animais, passando a confecionar peças de pele sintéticaA pele falsa é um material que imita a aparência e toque d... ver mais.... Contudo, esta solução para o problema trouxe à tona outras questões: que tipo de materiais são utilizados? Que fábricas são selecionadas para estes trabalhos? Quais são as condições dos trabalhadores?
A utilização de pele sintéticaA pele falsa é um material que imita a aparência e toque d... ver mais... foi parte da solução, mas não serve de compensação para tudo. As marcas têm de continuar a investir num processo de produção mais eficiente e responsável.
Os esforços da indústria para substituir o couroO couro é um material que deriva de animais de diferentes e... ver mais... e peles de animais, desencadearam estratégias inteligentes para as empresas com visão de futuro e que estão a tentar consolidar uma jornada mais sustentável e amiga dos animais. Assim sendo, as opções de couro vegano
O couro vegano corresponde a uma panóplia de alternativas a... ver mais... feitas de abacaxis, cogumelos, maçãs e cactos, são uma solução cada vez mais interessante, mas ainda não estão disponíveis para todos os mercados, seja por desinteresse dos responsáveis de fábricas e marcas, seja porque exige um investimento avultado a nível financeiro. Mais à frente, neste artigo, vou indicar algumas dicas e sugestões para tratares das tuas peças de pele e garantir um prolongamento da sua vida útil.
Casaco de pelo: sofisticação e conforto
Os casacos de pelo (sintético) são sinónimo de sofisticação porque são facilmente adaptáveis a diversos tipos de roupa e a qualquer ocasião, por exemplo, podemos usar por cima de um fato clássico, ou de uma camisola conjugada com umas calças de gangaA ganga (em inglês, denim) é um tecido de sarja de algodã... ver mais..., até mesmo com um vestido de festa. Independentemente da ocasião, o casaco de pelo é versátil e uma ótima opção, desde que escolhas o modelo certo para ti. O conforto, é outras das características associadas, porque é quente e macio, perfeito para dias mais frios.
Nas imagens abaixo, deixo algumas sugestões de como o podes combinar.



Marcas portuguesas
As marcas portuguesas, apesar da produção em Portugal e da preocupação pela cadeia de valor, estão ainda a otimizar os seus produtos em relação a algumas matérias-primas. No entanto, deixo a sugestão de diferentes modelos de casaco de pelo sintético de 5 marcas portuguesas: Martï, Kaoâ, Mauî e duas referências da moda de autor nacional: Carlos Gil e NOPIN.
Martï
As propostas da Martï são dois modelos curtos, práticos e confortáveis, porém algumas mudanças fazem a diferença nestas peças.
O casaco de pelo castanho tem um corte intemporal, é facilmente conjugado com uma roupa básica do quotidiano, seja umas calças de gangaA ganga (em inglês, denim) é um tecido de sarja de algodã... ver mais... ou bombazine e até uma saia de pele. É só combinar com uma camisa ou uma camisola de gola alta e estás pronta para enfrentar os dias frios. Apesar do pelo transmitir a ideia de uma peça clássica e elegante, os bolsos grandes conferem pragmatismo e irreverência à peça.

A outra proposta da Martï é um casaco com um corte reto com os ombros e mangas ligeiramente largos. A cor em destaque é uma das tendências da estação, o “burgundy” ou, se preferires, cor de vinho.
A faixa preta ao longo dos botões dourados, proporciona sobreposição de texturas e cor, característica que faz a diferença no casaco. Apesar da cor intemporal e do corte reto e simples, este estilo, apesar de funcionar bem com umas calças de gangaA ganga (em inglês, denim) é um tecido de sarja de algodã... ver mais..., pode ser usado com calças pretas de corte clássico, por exemplo. Dependendo do calçado, acessórios e se vais usar uma blusa ou camisola, consegues utilizá-lo tanto para ocasiões formais como informais.

O preço do casaco castanho é de 109,90€; o preço do casaco burgundy é 89,90€, mas encontra-se em promoção no website da marca, estando nesta altura a custar 54,00€.
Kaoâ
A proposta disponível no site da Kaoâ é um casaco de pelo branco. A palavra que melhor define esta peça é irreverência, devido à sua textura. Porém, é um casaco com design sofisticado, que pode facilmente combinar com um vestido de noite ou uma peça mais clássica, mas também desconstruir um look simples para ir para o trabalho.

O preço do casaco de pelo branco é 159,00€.
Mauî
A Mauî é uma marca especializada em roupa para festa e ocasiões especiais, no entanto, o casaco de pelo que destacamos é ideal para qualquer ocasião. A cor neutra e intemporal, o tecido quente, resistente e confortável proporciona todas as características essenciais para um bom investimento.

Tanto podes usar para uma ida ao trabalho, com uma roupa formal e um look mais descontraído. Se tiveres viagem marcada para um país frio e não podes levar muita bagagem, esta pode muito bem ser uma ótima opção, porque a sua versatilidade adapta-se a qualquer estilo.
O preço deste casaco é 179,00€.
Carlos Gil
O designer Carlos Gil aposta num modelo sofisticado, moderno e descontraído. Porém, este casaco de pelo não perde a elegância, podendo ser conjugado com uma saia de pele, com calças de gangaA ganga (em inglês, denim) é um tecido de sarja de algodã... ver mais..., pele e outros materiais. Encontra-se disponível em castanho escuro e num tom creme, com bolsos ao nível do peito, que tornam a peça irreverente e prática. Aliás, o pragmatismo desta peça é um dos elementos principais, pelo facto de possuir um cordão ajustável ao nível da barriga, para que, dependendo da ocasião, possas adaptar ao estilo que consideras mais adequado.


NOPIN
A NOPIN apresenta dois casacos de pelo compridos e corte clássico, porém com algumas diferenças. O modelo do casaco castanho existe também disponível em preto, possui um corte mais simples e é ideal para o quotidiano.

O casaco camel tem uma estrutura mais robusta e, apesar de ser facilmente adaptado a um dia de trabalho, não parece tão prático para esse efeito, sendo uma boa opção, por exemplo, para ocasiões formais.


O casaco castanho escuro tem o preço de 1.076€ e o camel custa 1.180€.
Estas são apenas sugestões com base numa pesquisa sobre a oferta de algumas marcas portuguesas. Cabe a cada consumidor definir a sua prioridade e orçamento, para tentar fazer a escolha mais acertada ao seu estilo e necessidades.
Nota: não é dispensada a consulta do sites das marcas apresentadas, para verificar preços, assim como o stock e tamanhos disponíveis.
Tratamento dos casacos de pelo sintético
Um dos aspetos negativos do couroO couro é um material que deriva de animais de diferentes e... ver mais... sintético e do couro vegano
O couro vegano corresponde a uma panóplia de alternativas a... ver mais... é que não possuem as mesmas propriedades resistentes da pele animal, por isso, é essencial alguns cuidados adicionais. Apesar deste aspeto negativo, as peças de pelo sintético podem durar praticamente uma vida, desde que sejam bem tratadas:
- O ideal é consultares a etiqueta das peças de roupa e seguires as instruções de lavagem.
- Podes tentar limpar uma mancha localmente, com um produto delicado e um pano húmido.
- Dependendo do tipo de composição do casaco, podes colocá-lo numa bacia com água fria ou morna (nunca uses água quente).
- Consultar a ajuda de um especialista, como uma lavandaria.
Atenção, estas regras de lavagem dos casacos de pelo não se aplicam a um casaco de couroO couro é um material que deriva de animais de diferentes e... ver mais... verdadeiro ou sintético, para isso deixamos o nosso artigo “Dicas para conservar peças de couro natural e couro sintético: da lavagem à arrumação”.
Além deste artigo, para verificar a composição das peças na etiqueta, aconselho a leitura de “Como é que sei se uma peça de roupa tem qualidade?”.
Sobre os símbolos das etiquetas das peças de roupa, podem consultar o Glossário de Moda Responsável, ou aceder diretamente aqui.
Fonte: A pesquisa das marcas e produtos, assim como a análise das mesmas foi realizada pela FashionHub. Para o enquadramento de dados históricos consultamos o blog Aventuras na História e a página oficial da PeTA.
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