Como é que sei se uma peça de roupa tem qualidade?

O segredo acerca da qualidade de uma peça de roupa está nos detalhes. O acabamento e o tipo de tecido fazem toda a diferença.

O segredo acerca da qualidade de uma peça de roupa está nos detalhes. O acabamento e o tipo de tecido fazem toda a diferença por mais mais básicas que sejam as peças, como umas calças de ganga e uma t-shirt branca, ou um vestido preto que nunca compromete um compromisso.

O consumidor, na maioria das vezes, fica refém de questões relacionadas com o preço (o que é perfeitamente compreensível) e opta por um produto mais barato, mas com isto esquece-se de colocar na balança alguns parâmetros, como a durabilidade e qualidade das peças. Assim, a expressão popular, “o barato sai caro”, pode infelizmente ser um lema aplicado na maioria das situações.

Não cabe à FashionHub julgar os consumidores, o nosso papel principal é a divulgação de informação e sugestões de como podem escolher uma boa peça de roupa e sobre a forma como olham para o respetivo guarda-roupa. O que pretendemos dizer-te é que não precisas de ter muitas peças, mas sim as suficientes para usar muitas vezes. Contudo, é importante que tenham qualidade e, ainda assim, um preço dentro das tuas possibilidades.

Um dos nossos principais conselhos é que penses várias vezes sobre a necessidade de comprar uma nova peça para o teu guarda-roupa: na utilidade que lhe vais dar, na combinação que é possível fazer com outras peças que já possuas e que estabeleças um orçamento.

Posto isto, é relevante  que tenhas em consideração a origem da produção e a composição da peça. A origem da produção pode dizer muito sobre a qualidade das matérias-primas, mas também sobre a responsabilidade social das marcas e os trabalhadores que estão por detrás da peça que tanto queres (sim, estamos a referir-nos às condições e salários dignos, mas também que não recorram a mão-de-obra infantil). Os consumidores devem começar a interessar-se mais pela composição das suas peças de roupa, com isto podem ter uma noção da qualidade, mas também perceber as potencialidades do produto no seu fim de vida, como a possibilidade de o poder vender ou doar a outra pessoa, desde que se encontre em boas condições e a possibilidade de ser reciclado, por exemplo.

Obviamente que estas são temáticas que, por norma, o consumidor não tem em mente quando compra um produto, principalmente roupa. O primeiro requisito que procuramos é o design, ou seja, se é bonito e se nos fica bem. Por isso, todo este processo é importante e tem de partir em primeiro lugar das marcas, que devem ter uma comunicação cada vez mais simples e concisa sobre o posicionamento em relação à responsabilidade social e ambiental, mas também alinhar as estratégias de design aos problemas da superprodução e do desperdício.

Neste momento, cabe ao consumidor pensar e questionar bastante antes de qualquer decisão de compra, ou seja, ser mais sensível a estas questões e consciente. É um caminho longo, mas terá resultados positivos no futuro.

Costumas verificar a etiqueta das tuas peças de roupa durante o processo de compra? Verificas a composição de um produto, se a compra for online?

Estas são algumas questões que, juntamente com as informações que apresentamos a seguir, queremos que façam parte da tua rotina numa ida às compras. Não te esqueças: tudo o que compramos tem um impacto!

A relação qualidade x preço

Por norma, existe uma associação entre uma peça mais cara corresponder a uma peça com mais qualidade. No entanto, é necessário que os consumidores saibam concretamente o que isso significa, ou seja, os valores concretos associados à produção das peças: desde a seleção das matérias-primas, o tipo de confeção, as condições dos trabalhadores, as amostras, estratégias de combate ao desperdício, a distribuição, entre outros aspetos.

As marcas devem ter especial atenção em divulgar estas informações relevantes, para que o consumidor entenda o real valor da peça. Se uma t-shirt branca de algodão orgânico, de uma marca de fast fashion for apresentada da mesma forma que uma t-shirt branca de algodão orgânico, de uma marca que preza de forma justa e equilibrada todos os valores de sustentabilidade social, ambiental e económica, o consumidor irá decidir tendo em consideração o critério mais favorável para si: o preço. Logo, o produto da marca de fast fashion tem vantagem, pois vai tratar-se de uma peça mais barata. Tudo isto, devido ao pouco cuidado na seleção da matéria-prima; condições de segurança e salários dos trabalhadores, que são muitas vezes insustentáveis; produção em massa e pouco cuidada, entre outros fatores.

Nem sempre sentir a textura das peças de roupa é suficiente para verificar a sua qualidade, é necessário analisar a etiqueta com a composição dos materiais usados na produção e o acabamento das peças.

Mas sobre este tópico ainda falaremos mais vezes no FashionHub e com exemplos concretos de algumas marcas.

Acabamento

Uma peça de roupa sem um bom acabamento vai parar à secção de arranjos de costura, pouco tempo depois da compra.

Por isso, não tenhas receio de virar a roupa do avesso. Para isso até podes pedir ao assistente de loja que estiver de serviço, de maneira a que o faças cuidadosamente. Só assim é possível conferir se os pontos de costura estão bem feitos, se o fecho está bem colocado e se os bolsos têm forros. Não é preciso entender de costura para verificar estes detalhes.

Outro aspeto importante e que deves ter atenção é a linha de costura utilizada. Há fios soltos? Parece que a peça se vai desfazer na primeira vez que a vestires? Então, talvez seja melhor repensares a compra.

No caso das roupas estampadas, principalmente às riscas e xadrez, tem atenção se o desenho se mantém uniforme, mesmo quando apertas o fecho de determinada peça de roupa que possua um desses padrões. Se o quadriculado perder a forma ou as riscas se desencontrarem, é mau sinal.

Outro aspeto que podes ter em consideração é se nos casacos, camisolas e determinado tipo de calças, existe a probabilidade de aparecimento de borboto. Entre as peças com maior tendência para este problema estão as produzidas com 100% sintética.

Composição das peças de roupa

No mundo ideal as marcas só produzem produtos em pequena escala e com tecidos naturais – como algodãoseda e linho -, pois resistem muito mais tempo. Mas também alternativas sustentáveis, como por exemplo, o cânhamo, também com bastante resistência. Contudo, estas matérias-primas são mais caras, logo o preço final da roupa também aumenta.

Para torná-las mais acessíveis, os fabricantes misturam tecidos sintéticos (como poliéster, viscose e nylon) com os naturais.

A qualidade da peça aumenta ou diminui a partir do equilíbrio entre estas misturas. Por isso, é necessário ter atenção à etiqueta: onde estão indicadas, em percentagem, as quantidades de cada tecido.

Deves evitar comprar peças de roupa compostas pelas seguintes matérias-primas: poliéster, poliamida, nylon, teflon, acrílico, elastano, licra, acetato e com qualquer componente de plástico. Estes materiais, além do impacto ambiental negativo, também são de pior qualidade e têm menos resistência ao uso frequente e às lavagens.

Impactos ambientais dos tecidos sintéticos

Estes materiais são maioritariamente fibras sintéticas, muito comuns devido ao baixo custo de produção, por isso são frequentemente usados pela fast fashion.

A produção de tecidos sintéticos liberta diversos poluentes para o meio ambiente. Após a produção destas roupas, há também microplásticos que se soltam durante a lavagem e acabam nos rios e oceanos, o que prejudica os ecossistemas. Esta não é a única fonte de emissão de microplásticos, mas é uma das principais. A contaminação acontece devido à lavagem destas roupas, mas também porque o próprio atrito com o corpo humano ajuda a soltar microplásticos para o ar.

Os tecidos de fibra sintética não são biodegradáveis, portanto podem demorar centenas de anos para se decompor. No caso do poliéster, por exemplo, a decomposição do tecido pode demorar 400 anos.

Para se ter uma ideia, o poliéster corresponde a metade das peças fabricadas no mundo. Juntamente com outras fibras sintéticas a produção chega a 63%.

Já olhaste para a etiqueta do que tens vestido hoje?

Certamente não, mas desafiamos-te a fazê-lo: verifica a composição das peças e a origem da produção.

Se estiveres a chegar à conclusão de que andas a fazer as escolhas erradas, estás sempre a tempo de mudar a atitude. O importante é que agora já aprendeste/consolidaste alguns critérios a ter em consideração quando vais às compras. Esperamos que o ato de pesquisar e de te informares mais sobre as peças de roupa, comece a ser tão satisfatório quanto o ato de comprar.

Tudo o que compramos tem um impacto!